Santa Catarina tem muitas paisagens, cultura diversa e uma ligação forte com suas raízes. Em novembro de 2024, ganhou mais um motivo de orgulho: a Rota da Erva-Mate, criada no coração do Planalto Norte. Uma rota que une tradição, agricultura familiar, natureza e uma pitada de inovação. Quem percorre esse caminho, encontra mais do que chá na cuia. Encontra história viva.

De geração em geração: A cultura que segue firme

A Rota da Erva-Mate não surgiu por acaso. Ela é resultado de um movimento coletivo, impulsionado pelo Sebrae SC em parceria com o Sindimate. Esse projeto não nasceu de um dia para o outro. Foi costurado com cuidado por quem conhece a importância da erva para a região.

A planta, usada pelos povos Guaranis muito antes da chegada dos colonizadores, atravessou séculos sendo cultivada e consumida. Os tropeiros confiaram nela para manter o ritmo nas longas jornadas. Os imigrantes a adotaram como parte do cotidiano. Hoje, a erva-mate é um símbolo da identidade local.

Quem já provou sabe. A erva-mate do Planalto Norte Catarinense tem sabor diferente. Menos amarga, mais doce. Com folhas mais verdes e maior quantidade de cafeína. Tudo isso se deve ao modo como ela é cultivada. A sombra das araucárias garante temperatura amena e umidade na medida certa. O solo da região é rico. E o manejo segue práticas sustentáveis, respeitando o tempo e o jeito da planta.

Desde 2022, essa qualidade é reconhecida com a Denominação de Origem (DO), um selo que atesta: essa erva tem algo especial. A Rota da Erva-Mate conecta as propriedades certificadas e abre os portões para mostrar isso de perto.

Canoinhas: A capital do mate e das boas histórias

Em Canoinhas, a Rota da Erva-Mate ganha vida em diferentes pontos. Um deles é a Ervateira Canoinhas, que abre suas portas para mostrar como a folha vira pó. A visita começa na floresta, passa pela fábrica e termina com uma cuia nas mãos. Quem prefere algo mais doce pode parar na Doces e Fricotes, onde o cardápio inclui bolo, brigadeiro e panqueca com sabor de mate.

Ali perto, a Farben Haus convida para colocar a mão na massa. Ou melhor, na vela. Em formato de cuia. A proposta é pintar, personalizar e levar para casa um pedaço da tradição local em forma de arte. Um jeito criativo de entrar no clima da Rota da Erva-Mate.

No Sítio Esmeralda, o visitante ajuda a cuidar do erval e ainda planta uma muda. Cada passo no terreno mostra o cuidado que começa na terra e termina no prato. E que prato. O destaque do almoço é a carne suína caramelizada com calda de erva. Tudo feito ali mesmo, com receita de família.

A Ervateira Ouro Verde também fica em Canoinhas e mostra o passado e o presente da produção. A diferença está nas mãos que cuidam da erva: três gerações da mesma família. Um detalhe encantador da visita é poder socar a erva em um pilão antigo. Pouca coisa aproxima mais da história do que repetir um gesto que atravessou décadas.

Tradição indígena em Bela Vista do Toldo

O Rancho do Barbaquá leva o visitante direto às origens da erva. Lá, o processo é manual. A planta é sapecada no fogo, defumada com cuidado, como os Guaranis faziam. Cada etapa é feita ao lado dos moradores, com explicações simples e cheias de afeto. Ao final, pão de queijo, broa com mel e muita conversa boa fecham o passeio com sabor de casa.

Na Fazenda Rio Bonito, também em Bela Vista do Toldo, a recepção é feita com chimarrão ou suco gelado da planta. O tour passa pelos ervais, onde se aprende sobre cultivo sem agrotóxicos e a importância da preservação. Depois, o brinde é com cerveja artesanal feita ali mesmo, com lúpulo da fazenda e a estrela da Rota da Erva-Mate como ingrediente principal.

O município vizinho de Canoinhas também integra a Rota da Erva-Mate com estabelecimentos que preservam o saber dos antepassados. Visitar essas propriedades é como ouvir um bom “causo” no fim da tarde. A erva aparece em receitas caseiras, nas histórias contadas no galpão e até em produtos que surpreendem, como cosméticos e sabonetes feitos à base da planta.

O mapa do mate

Hoje, são nove empreendimentos integrando a Rota da Erva-Mate, espalhados por três municípios. Cada um tem seu jeito, seu tempero, seu ritmo. Alguns priorizam a produção, outros apostam no turismo criativo, mas todos têm algo em comum: o respeito pela planta que sustenta famílias e guarda histórias.

A intenção é ampliar esse caminho com o tempo. Mais produtores querem participar. Mais pessoas estão descobrindo que a erva vai muito além do chimarrão.

Fazer parte da Rota da Erva-Mate é um convite para viver o Planalto Norte com todos os sentidos. O cheiro da folha recém-colhida, o calor da cuia nas mãos, o sabor forte e adocicado. E, acima de tudo, a conversa. Porque quem passa por esse roteiro não sai só com sacolas, sai com causos.

O roteiro não precisa ser feito de uma vez. Cada parada tem valor próprio. E cada conversa deixa algo guardado na memória.

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